Thursday, May 1, 2014

Sou culpada pela derrota....

Para um blog que tem um título como o meu, sempre me surpreende que nunca quero escrever sobre futebol. Torcedora fanática do meu time, não perco um jogo e acompanho o noticiário esportivo com fervor. Entretanto, não consigo escrever sobre o assunto. Ou estou muito alegre com o resultado do jogo e não quero regurgitar a emoção positiva ou estou tão triste com a derrota que meus pensamentos embolam e não consigo pensar logicamente dificultando qualquer expressão em palavras. Ontem o Grêmio perdeu nos penaltis e foi eliminado da Libertadores. Mais uma vez... Mais um dia sem ler as notícias esportivas e evitando a mídia social onde os colorados estão vomitando sua euforia, o que realmente me irrita. Acordei hoje com um gosto amargo na boca que nem um café forte conseguiu tirar.
Na realidade, me sinto culpada pela derrota. Você que está lendo, deve estar dizendo: “Que absurdo!” Mas vou explicar a razão dessa culpa. Cresci cercada de superstição e me tornei escrava das rotinas que julgo me trazerem sorte e bons fluidos. E isso ocorre principalmente em relação ao futebol.... Posso resumir essa filosofia num episódio ocorrido em 1970, durante a Copa do Mundo no México.... Eu tinha 14 anos.... Primeiro jogo. Brasil x Tchecoslovaquia. A família toda sentada em frente à televisão. Os jogos ainda eram em preto e branco! E achavamos a imagem ótima. Quando Petras fez o primeiro gol, ficamos desconsolados. Meu pai deve ter acendido outro cigarro, minha mãe foi para o quarto e minha irmã e eu decidimos que poderíamos aproveitar melhor o tempo se fizessemos nossos deveres de casa para acalmar os nervos. Espalhamos os livros pela mesa da sala de jantar e com um olho na televisão tentamos fazer de conta que não estávamos preocupadas. Mal nos acomodamos, pouco mais de dez minutos depois, o Brasil empata. Gritaria e foguetes por todo lugar. Pulavamos numa alegria suprema. Voltamos todos para a sala para o resto do jogo. Meia hora e o jogo continuava empatado. Meu pai, então, fez algo que me surpreendeu e me surpreende até hoje quando me recordo daqueles eventos. Mandou minha irmã e eu voltarmos para a mesa com nossos afazeres escolares e despachou minha mãe de volta para o quarto. Mal retomamos nossas posições, Pelé faz um gol e minutos depois Jairzinho crava outro. Aquele jogo acabou 4x1! Brasilia em festa, a família Rotta em festa. Quatro dias mais tarde, o Brasil jogava contra a Inglaterra, que havia sido campeão mundial na Copa anterior. Lá estávamos  todos na sala para assistir o jogo. Por ali ficamos todo primeiro tempo. Um jogo fechado, difícil, onde as bolas pareciam não querer entrar. No intervalo, meu pai, com sua calma habitual, pediu que retomassemos nossas posições do primeiro jogo. Minha irmã protestou mas obedecemos. Quinze minutos no segundo tempo, Tostão pela esquerda dribla tres ingleses (inclusive usando o cotovelo!), toca para Pelé no meio, que desliza a bola para Jairzinho que pela direita estufa as redes. Se você nunca viu este gol aqui está um vídeo. É meu gol favorito de todos os tempos (depois do gol do Anderson em 2005 contra o Nautico na batalha dos Aflitos!!!)

https://www.youtube.com/watch?v=-x_54egvXMk

Outra vitória, outra explosão de alegria. E não preciso dizer que minha irmã e eu passamos o resto daquela copa fazendo nossos deveres na sala de jantar, vendo o jogo de longe e minha mãe confinada no quarto, só podendo sair de lá para celebrar os gols. E alguém tem dúvidas de que me sinto responsável pela vitória do Brasil naquela Copa? Mais de quarenta anos se passaram. Hoje em dia já não sou uma torcedora do time do Brasil como era naquele tempo. Meu coração se divide desejando que os Estados Unidos faça bonito no próximo campeonato. Além disso, o fato da maioria dos jogadores da nossa seleção jogarem fora do país fez com que torcer por eles perdesse a graça. É como se jogadores estrangeiros estivessem jogando com a camisa amarela.... E agora minhas paixões futebolisticas se concentram no Grêmio. Voltemos então para a minha culpa nesse dia de ressaca depois da derrota de ontem. Como não podia ser diferente, me tornei meu pai. Tenho uma série de superstiçoes em dia de jogo. Lavar a cabeça com determinado shampoo, não falar com minha irmã (o que faço todos os dias, menos em dia que o Gremio joga!), falar rapidamente com meu irmão André sobre o quanto estamos nervosos, ir ao supermercado seguindo uma rota diferente. Durante o jogo sento com as pernas dobradas na direção em que o Gremio está atacando naquele tempo pela perspectiva que tenho da televisão e tenho uma série de outros rituais que não vou descrever aqui com medo que me achem maluca. Ontem fiz tudo isso, com exceção de um dos meus hábitos em dia de jogo: não usei o lençol que dá sorte. Troquei a roupa de cama de manhã e havia me esquecido de que era dia de jogo. Fiquei com preguiça de fazer a cama de novo (juro, o Gremio sempre ganha quando uso este lençol!). Alem disso, minha racionalidade gritava em minha mente que aquele detalhe não ia fazer a mínima diferença. Pois bem, fez... E me sinto responsável pela derrota! Peço que os jogadores do Gremio que se mataram em campo e a torcida que compareceu em peso me perdoem. Prometo seguir todo meu protocolo de superstições nas próximas partidas importantes do Gremio. Ou seja... Meus domingos e quarta-feiras já não me pertencem....

Sunday, November 3, 2013

Amiga

Sonhei com uma amiga essa noite que passou e, depois de sair do meu estado de torpor matutino ao acordar, me dei conta de que não sabia dela há algum tempo. Coloquei o pensamento em uma prateleira para me lembrar mais tarde e segui meu dia. Lá pelo final da manhã, enquanto navegava pelos jornais do Brasil no computador, encontrei o pensamento em alguma noticia boba e fui procurar minha amiga. Onde? No Facebook, é claro!...... Tentei pesquisar mas o nome dela não aparecia na lista. Fui olhar na minha lista de amigos e de repente me dei conta de que ela não estava mais na minha lista de amigos... Não digo que tenha ficado chocada. Um pouco perplexa, talvez. Fui desamigada.... Tudo bem, não vejo essa amiga há mais de vinte anos. Falamos algumas vezes pelo telefone, mas eu não sei da vida dela a não ser por algumas fotos esporádicas e ela não sabe coisa alguma da minha vida pois nunca coloco foto alguma na minha página... Amigas.... Sempre tive muitas, mas eram poucas. Muitas ao meu redor, porém raras ao alcance de um abraço, uma tristeza, uma lágrima ou uma gargalhada, coisas muito íntimas que você não divide com qualquer um. Quando mais jovem, era mais fácil. Conforme vamos amadurecendo a vida vai criando um muro ao nosso redor com desconfianças, lições que aprendemos e interesses que vão se definindo e nos protegendo de prováveis decepções..... Por isso, cada vez que me encontro numa encruzilhada relativa a amizades, sempre volto para o meu porto seguro, minha melhor amiga, e a partir daí posso pesar e colocar as coisas em perspectiva. Nos conhecemos desde sempre... Crescemos juntas, vivendo as mesmas experiências, mas por sermos diferentes em nossa essência, absorviamos tudo cada uma do seu jeito. Houve momentos de atrito, quando nos separamos fisicamente e espiritualmente, onde nossos mundos pareciam estar em galaxias diferentes. Essas orbitas distantes duraram meses, algumas vezes anos, mas sempre voltavamos a nos cruzar até por força das circunstâncias e um dia alinhamos nossos planetas.... Ainda pensamos de maneira quase totalmente oposta mas aprendemos a ouvir a outra e mesmo não concordando, respeitamos e tentamos absorver o que combina com nossas idéias. Sempre há algo para aprender! Rimos e choramos juntas mesmo estando a mais de 4500 milhas de distancia. E quando essa distância não existe, passamos a maior parte do tempo rindo muito de nós mesmas e das situações ridículas que nos metemos. Conversamos coisas sérias, mas tudo com leveza. Não cobramos uma da outra o que não podemos dar porque nos conhecemos profundamente. Nossa convivência, portanto, é muito mais relaxada. Não precisamos fingir ou tentar aparentar o que não somos. Cada vez que desligo o telefone depois de falar com ela ou depois de uma temporada juntas, sinto-me privilegiada, abençoada pela vida. É claro que não foi fácil preservar nossa sanidade e nossos mutuos sentimentos em meio ao barulho e as situações adversas que tivemos que encontrar juntas. Muitas vezes terceiros tentaram nos usar uma contra a outra seja lá porque razão, mas aprendemos a nos precaver contra estes incidentes... Por exemplo, meu ex-marido, quando nos separamos, convidou-a para jantar e apareceu com uma namorada. Não sei se ele quis tirar minha rede de segurança ao tentar fazer com que ela escondesse algo de mim e com isso fragilizar nossa relação. Ele talvez não saiba mas aquele jantar (que me foi relatado com muito tato) foi a gota d’água que me mostrou definitivamente que o casamento estava terminado. Parti para outra sem culpa nenhuma!!!! Eu pensaria que talvez fosse isso mesmo que ele quisesse, se ele não tivesse tentado a reconciliação cinco meses depois. Mas daí era muito tarde!!!! Por isso, ao ser desprezada por uma amiga no Facebook, não vou mentir e dizer que não me incomoda. Incomoda e muito... É como receber um certificado negativo dizendo que não valho a pena. Mas nada posso fazer... A não ser telefonar para minha irmã e comentar o assunto e tentar entender o significado deste acontecimento, sem culpas ou acusações. Dizem que os amigos são a família que escolhemos. Eu digo que minha irmã é a amiga que escolhi.....

Saturday, December 1, 2012

Um sorriso que vale milhões

Hoje, ao ler uma notícia na internet, minha mente entrou em outra viagem ao passado. Não sei o que contar antes. Se a notícia que li ou aquela noite mais de 40 anos atrás.... Vou começar cronologicamente.... Eu morava no Rio, na Praia Vermelha. Tinha 10 anos quando meu pai iniciou a Escola de Estado Maior e 13 quando nos mudamos para Brasília. Uma pré-adolescente que dividia o tempo entre a escola, ballet com Eleonora Oleosi e bicicleta na Pracinha. E todas essas atividades eram compartilhadas com minha amiga de toda vida, a Dadi. Nos conhecemos aos seis anos em Marechal Hermes e sem dúvida são 50 anos de muita alegria e gargalhadas.... Quando moravámos no "Balança mas não Cai" (com mais 300 famílias de militares), a dimensão de nosso mundo insistia em querer sair daquela confusão de competição e fofoca que rodeava nossas vidas. Líamos muito (mas só livros que tivessem passado pelo crivo de nossas mães, é claro!!!), éramos curiosas em relação ao que estava lá fora e evitávamos os outros grupos. De uma certa forma, isso nos enriquecia mais. Lembro que resolvemos criar peças de teatro ondes os atores eram vidros de perfume. O tio Miró desenhava os cenários, que colocavamos no peitoril da janela cujas cortinas eram perfeitas como se fosse um palco. A vó da Dadi costurava os vestidos e nós, Dadi e eu, mais nossas irmãs, Angela, Simone e Heleninha, criávamos os enredos e fazíamos as vozes de nossos personagens. Passávamos horas ensaiando e depois convocávamos as famílias para assistir... Depois como pagamento para o tio Miró, tínhamos que iluminar os mapas que eles traziam para casa!!!! Só não estávamos juntas todo o tempo porque tínhamos que comer e dormir em nossas casas. E assim mesmo, no segundo ano, quando o tio Ivino e família se mudaram para o 12o. andar, diminuimos mais ainda essa separação. Nossas áreas de serviço davam uma para a outra. Eu, no 14o. andar, subia num banquinho para poder ver por cima da varanda e ficavámos de conversa furada por horas a fio. Percebendo que os vizinhos estavam interessados em nossos assuntos, ou achávamos que eles estavam, criamos um código e falávamos fluentemente como se fosse uma segunda língua. E foi com o avô de minha amiga, ou melhor, por causa dele, que engrenei esta viagem ao Rio do final dos anos 60. Ele tinha uma conexão com tenis, não me lembro dos detalhes. Sei que jogava e conhecia muitos jogadores. Uma noite nos levou até as quadras do Fluminense para assistir alguns jogos. Sentamos num banco ao lado de uma quadra e assistimos quietinhas. Jogadores e público eram muito mais velhos do que nós e tínhamos sido instruídas durante o percurso de casa até o clube que o tenis era um esporte para se apreciar em silêncio. Acho que o vô da Dadi sabia que minha irmã e eu frequentavamos o Maracanã com o meu pai e tinha medo de que eu achasse que era a mesma coisa. O jogo que assistimos terminou e os jogadores vieram cumprimentar o General (era como o chamavamos). Ele conversou um pouco com os rapazes e para minha total surpresa apresentou as netas e amigas. Lembro da sensação de prazer que senti por estar sendo tratada como uma pessoa adulta. Mais surpreendida ainda fiquei quando um dos rapazes olhou para nós sorrindo e fez um movimento com a cabeça como saudação. Então ouvi o nome do dele e nunca mais esqueci. Acho que foi a primeira vez em minha vida que alguem mais velho (ele devia ter uns 30 anos) não nos tratava como seres invisíveis. Totalmente hipnotizada pela figura, lembro que pensei comigo mesma que aquele homem parecia um dos heróis dos romances que eu devorava. Alto, magro, rosto comprido e um sorriso sem um pingo de arrogância. E o olhar simpático de reconhecimento que ele nos deu foi a primeira injeção em minha auto-estima que penou naqueles duros anos de adolescência. Aquele momento não deve ter durado mais do que dez minutos, mas foi gravado a ferro e fogo na minha mente.
Muitas vezes ouvi falar daquele jovem rapaz, pois ele se tornou um empresário de sucesso e estava sempre nos jornais por suas audaciosas conquistas econômicas. Dono disso, dono daquilo, compras assombrosas. Hoje, nos jornais brasileiros na Internet, li novamente sobre ele. Jorge Paulo Lemann tornou-se o homem mais rico do Brasil. E no artigo dizia que ele foi pentacampeão brasileiro de tenis em sua juventude. Provavelmente o era naquela noite de 1967 ou 1968. E mesmo assim foi gentil e educado e presenteou um bando de pirralhas com um sorriso carinhoso. Merece tudo que conquistou!!!!

Monday, October 22, 2012

Rosa Champagne ou Choco-latte?

Hoje, depois de uma auto-manicure, olhei para minhas mãos e em vez de uma sensação gratificante que sempre me inunda, o que senti foi muito diferente. Foi como se tivesse entrado numa máquina do tempo e sido transportada para cinquenta anos atrás. Arredondei o número. Pode ser mais ou menos. A única certeza que tenho é que era criança e meu mundo era muito reduzido. Família, escola, vizinhos. Não sabia onde estava, onde ia. Não tinha que tomar decisões e cada momento era aquele momento. Sem causas ou consequências. As imagens são separadas como se eu estivesse vendo um album de fotos. Coisa mais antiga... Album de fotos... Meus netos não saberão o que é isso.... Saio da minha máquina no tempo no apartamento de meus avós, em Porto Alegre. Rua Olavo Bilac, quase esquina da João Pessoa. Acho que ainda havia bondes. Todos os anos, antes de irmos para a granja do Vô Zeca, meu bisavô, em Cachoeira do Sul, passávamos uma temporada na capital gaúcha com meus avós maternos. Hoje me pergunto como era possível? Eram seis adultos e nove crianças (com uma diferença de cinco, seis anos entre os mais velhos e os mais novos) vivendo, dormindo e comendo em um apartamento de três quartos. Uma insanidade... Cada casal dormia em um quarto, as meninas no chão do quarto dos meus avós e os meninos espalhados pela sala. O café da manhã parecia um mercado indiano. Como as mulheres da família foram todas criadas à beira de uma cachoeira (mentira, mas é uma idéia romântica para explicar porque todas falam em um tom tão alto), e todas queriam impor as regras cotidianas de suas casas, a cozinha virava nosso desafio. Desobedecer e enlouquecê-las.... Depois do açucar matinal, as crianças totalmente fora de controle corriam pelo corredor do apartamento, entrando e saindo dos quartos e avançando pela sala, com nossas mães em nosso encalço segurando vasos e cristais que enfeitavam cada centímetro da decoração. A única solução era tirar aqueles demonios de lá e fico me perguntando se não exageravamos na bagunça para antecipar a saída. Lá iam os homens (vô e seus genros) tentando controlar a travessia das ruas, as corridas inesperadas e a entrada nos pátios pelos quais passavamos. Era uma cidade onde não havia grades e os portões estavam sempre abertos. O destino era sempre o mesmo: o parque da Redenção. Corriamos pelas trilhas, nos escondíamos, gritávamos o quanto queríamos. A espécie masculina da família era um pouco mais paciente conosco, provavelmente porque não tinham que nos aguentar tanto tempo no resto do ano. Depois de gastar as energias, era a hora do parquinho. Uns brinquedos simples mas na nossa perspectiva eram montanhas russas cinematográficas. Mais gritos e mais emoção. A essa altura, estávamos exaustos e mais calmos. Arrebanhados como gado, íamos caminhando até a Rua Santo Antonio (a travessia da Osvaldo Aranha era uma epopéia!!!) e chegávamos ao edificio onde minha bisavó Alice e minha tia avó Tecla moravam. Não lembro se havia elevador ou subíamos pela escada. Não consigo lembrar se essa visita era algo que queríamos. Querendo ou não, fazia parte do calendário visitar a mãe de meu avô. Acho que nunca a vi fora daquele apartamento. Nas memórias mais antigas, vejo-a sentada numa cadeira como uma rainha. Nos últimos anos quando chegavamos ela estava na cama. O quarto era meio escuro e ela ficava recostada em vários travesseiros, olhando para cada um de nós como se quisesse fixar nossos rostos e maneiras em sua memória. Não me lembro de sua voz, mas o tom desafinado da voz de minha tia avó parece um um disco em minha lembrança e de uma certa forma é a trilha sonora daquelas visitas. É só ativar para tocar.... Mesmo naquela idade, podia sentir a tensão daqueles momentos. Havia muitos mistérios e muitas histórias que nunca foram faladas e sei que nós crianças percebíamos pois imediatamente após entrar no apartamento, as brincadeiras paravam, as risadas cessavam e nos deixavamos levar para onde nos mandassem. As crianças mais velhas rodeavam a cama. Havia um cheiro de rosas no ambiente. Ela perguntava quem era quem e todos os anos tínhamos que nos apresentar como se ela nunca tivesse nos visto. Sorria para cada um e tinha um jeito amável, mas morríamos de medo. Hoje fico furiosa comigo mesma por não ter perguntado coisas para ela sobre meu bisavô, jogador e fundador do meu amado Gremio. Acho que eu nem sabia que era gremista. Pelo menos, não ainda....Não acredito que nossas visitas passassem de trinta minutos, mas quando saíamos para a rua, a sensação era de que horas e horas tinham passado Tenho que admitir que os acontecimentos daquelas visitas são um pouco confusos em meu album fotografico mental, mas uma coisa é nítida como uma foto tirada por uma máquina moderna e cheia de recursos.... As mãos pequenas da minha bisavó repousando nos lençois bordados e perfeitamente passados. As unhas eram longas, mas não muito, limadas em estilo ovalado e pintadas com uma cor que era chamada de rosa champagne. Lembro que mais de uma vez fiquei mesmerizada por elas e muitas vezes quando levantava os olhos, encontrava os de minha irmã fazendo o mesmo caminho. Até hoje conversamos sobre as unhas da vó Alice. Uma das primeiras coisas que temos em comum... E que nos une até hoje!!!! E alguém me perguntará porque olhando para minhas mãos fiz essa longa viagem? Porque o esmalte que estreei hoje dizia que a cor se chama "Choco-latte", mas depois de pincelado em minha unha descobri que deram um novo nome para o "rosa-champagne"!!!!

Wednesday, February 15, 2012

Uma foto cheia de esperança

Não sou uma grande navegadora da Internet. Vou aos jornais, alguns sites de notícias, principalmente de esportes e dali parto para outras paragens. Tenho uma vida fora dessa cadeira em frente ao computador e tento desfrutá-la da melhor maneira. Porém, tenho que reconhecer que um dos melhores momentos do meu dia é abrir minhas mensagens pela manhã. Como sou uma irremediável otimista, estou sempre esperando notícias boas e coisas alegres. Não estou falando em ter os números vitoriosos da loteria. Meus sonhos são menos ambiciosos. Pode ser uma pequena vitória de uma filha, uma piada de meus irmãos e as respostas cheias de deboche da minha irmã e até uma contratação promissora do meu time. Hoje quase tive um enfarte de alegria. O Gremio vai ter um jogador chamado Facundo. Pode coisa mais portenha? Espero que ele corresponda às minhas expectativas. Os últimos hermanos (Escudero e Miralles) não passaram dos meus suspiros de indignação...
Voltando ao meu despertar... Com uma xícara de café, checo as mensagens e depois vou para os jornais brasileiros ver qual foi o ministro pego com a mão na botija ou as calças na mão (escolham a metafora!) Em tempos de BBB, já estou treinada em pular algumas manchetes. Nunca vi o tal programa, mas acho uma completa perda de tempo ficar observando essas criaturas brigando ou conversando. E em véspera de carnaval... as opções diminuem mais ainda.
No entanto, hoje de manhã encontrei essa foto.











E me derreti... Esta é uma deputada italiana (Licia Ronzulli) do parlamento europeu em Estrasburgo. A expressão dessa criança com a mão levantada, provavelmente imitando todos os adultos que a rodeavam, é uma das melhores imagens que vi nos últimos dias. Sei que nos concursos de fotografias, os jurados normalmente escolhem as fotos carregadas de tragédia humana, envolvendo guerra, sofrimento e medo. Mas essa menina com este gesto simboliza tudo que os seres humanos, principalmente as mulheres, conquistaram nos últimos anos: podemos escolher o que é melhor para nós.
No Brasil, as mulheres conseguiram seu direito ao voto somente em 1932. Não é um absurdo? E se não tinham direito a escolher seus representantes políticos, frequentemente não escolhiam seus maridos, suas profissões e seus destinos. As jovens mulheres de hoje nem conseguem imaginar a vida de nossas antepassadas... No entanto, para algumas, essa imagem de uma jovem deputada com sua bebe no colo votando no parlamento europeu significa mais do que uma vitória. Significa que as mudanças vieram para ficar. Infelizmente, muitas de nossas conteporâneas não tem acesso a essa liberdade. Quando em nome de uma religião disfarçada de cultura, mulheres não podem escolher o que vestir, com quem casar e nem mesmo dirigir um automóvel, vejo que muitas batalhas ainda terão que ser deflagradas. Temos uma enorme responsabilidade de continuar lutando para preservar o nosso direitos conquistados. E essa menina com a mão levantada me traz esperança de que isso acontecerá de uma maneira mais suave e mais tranquila. Prefiro o voto em vez de bombas e guerras, mas não me iludo de que em certas partes deste planeta, muitas guerras ainda acontecerão para que as mulheres sejam donas de suas vidas e nós não percamos o controle das nossas.

Thursday, February 9, 2012

Notícias e notícias...

Sei que acabei de colocar um post, mas não resisto a fazer um comentário sobre algo que ocorreu hoje de tarde.
Um assalto a um banco em Porto Alegre transformou-se em uma situação de reféns. O trânsito virou um inferno e agravou-se com o fim da jornada de trabalho e a ida em massa dos colorados ao Beira-Rio para um jogo da Libertadores. Eu liguei na Radio Gaúcha para ver como a situação estava se encaminhando, quando anunciaram que os bandidos estavam liberando uma refém grávida de oito meses. Um reporter estava no local e avisou que a tal mulher estava vindo na direção dele e ele tentaria entrevistá-la. Sabem o que aconteceu no momento seguinte? A transmissão da Azenha foi interrompida por um repórter que estava no Beira-Rio, anunciando a passagem do Leandro Damião e pedindo que este falasse alguma coisa. O atacante colorado passou reto, mudo. E quando a transmissão do assalto voltou, a refém libertada já havia passado pelo repórter. Não acredito que ela fosse falar com ele, mas quem foi o imbecil que fez o corte para o Beira-Rio? Uma palavra que fosse seria uma baita noticia em vez do Damião dizendo mais uma mesmice....
Quando isso acontece eu entendo porque desisti do Jornalismo....Se eu fosse aquele jornalista cobrindo o assalto tinha batido com o microfone na minha cabeça de raiva.

Presidentes e estagiárias

Hoje estou um pouco perturbada com uma série de reportagens que têm saído aqui sobre John Kennedy, o presidente mito. Que ele era mulherengo, não é nenhuma novidade. Na realidade estou me lixando para a atividade sexual do 35º presidente dos Estados Unidos. O que me incomoda mais uma vez é o fato de que um homem poderoso (e põe poderoso nisso) seduziu uma estagiária. Tudo bem, elas têm 18 anos ou mais. Mas é uma covardia... Já tinha essa opinião no episódio da Clinton-Monica Lewinski. E numa situação que ocorreu 50 anos atrás, acho muito mais avassaladora a pressão que essa jovem ter sofrido. Depois de passar o dia ruminando e muito incomodada comecei a perceber que estava levando as coisas para o terreno pessoal. Será que o mundo vai algum dia melhorar nesse aspecto? JFK não podia ver um rabo de saia, Clinton também não. E como se eu estivesse lendo um livro, todos os homens poderosos e galinhas que passaram por minha vida começaram a aparecer em minha memória. Foram vários, e na realidade não me lembro deles. Recordo, isso sim, o quanto inconfortável eles fizeram com que eu me sentisse. E fico atônita pois agora entendo que nunca fui uma pessoa com "sex-appeal". Sempre me vesti discretamente. Não era feia quando jovem, mas também não era de virar cabeças na rua. No entanto, o assédio que sofri enquanto trabalhei foi realmente uma paulada.
Certa vez enfiei meu joelho (com força) nas bolas de um colega de trabalho porque ele tentou me beijar durante uma reunião. Saí da sala furiosa e fui avisar ao nosso chefe (alguém que eu conhecia há muito tempo) que tomasse cuidado pois aquele cara não era confiável.
Ele riu da minha ingenuidade e da minha indignação. Alguns meses depois mudei de emprego e de cidade. Uns anos mais tarde encontrei meu ex-chefe e ele me disse que deveria ter me ouvido. O tal cara tinha aprontado com ele e até usurpado seu cargo. Virou político importante no Brasil, que novidade.....
Tive um chefe que passava boa parte das nossas reuniões me fazendo propostas indecorosas. Outro tinha mania de abrir minhas bolsas quando eu não estava por perto e surrupiar minhas escovas de cabelo. Na terceira, coloquei um cadeado. Ele ficou indignado!
Assim foi durante boa parte da minha vida profissional. Escutei coisas ofensivas e vivi situações que me deixavam alucinada de raiva e firmemente determinada a procurar outro emprego. Pensava que talvez eu só encontrasse paz quando ficasse mais velha ou mais poderosa dentro da minha área de atuação. Nunca pude confirmar minha teoria pois parei de trabalhar antes que uma dessas variáveis ocorresse.
Eu já era uma mulher adulta quando esses insultos aconteceram e de uma certa forma soube como dizer não. Entretanto, nenhum deles era presidente dos Estados Unidos (longe disso!). Por isso não julgo nem a Lewinski nem essa senhora que era uma menina quando essas coisas aconteceram.
E me espantei ao ler que o marido da Jackie pediu a essa moça de 19 anos para fazer sexo oral num assessor dele que estava um pouco triste. Decepção é pouco para descrever o que estou sentindo.
Se alguem estiver interessado em ver toda a matéria em inglês:
http://rockcenter.msnbc.msn.com/_news/2012/02/08/10355502-white-house-intern-speaks-about-jfk-affair-i-was-sort-of-swept-into-this-web

Eu não vou julgar o legado do Kennedy por esse acontecimento. Fico preocupada, no entanto, por ter três filhas e me pergunto se a situação melhorou nos últimos anos. Eduquei minhas filhas a não fazerem o que não quiserem. E sei que as mulheres não mais se amendrontam ao serem acuadas, seja lá do jeito que for. É o que me dá um pouco de esperança....
Acho que sob esse aspecto, o mundo está muito melhor.